Vejo nos dias de hoje a maioria das pessoas reclamando que o sucesso, o dinheiro, o álcool e as drogas estão matando e destruindo as pessoas...
Na realidade eu tenho observado que as famílias só são reais, passeando em shoppings, os pais amorosos são aqueles que dão presentes para sanar a ausência física, e que os limites nunca mais foram usados...
Sabe aqueles limites que eu tive e tenho certeza que algumas outras pessoas tiveram: hora de acordar, hora de tomar banho, escovar os dentes, hora de comer, hora de dormir, hora de estudar, hora de brincar, hora de ver TV e quando fazíamos besteiras um bom e belo castigo... Mas aquele de ficar sentadinho em um sofá, ou sem ver tv, ou sem sair para brincar ou usar algo que gostávamos, (uma boneca ou uma bola);
Mostrar o boletim e saber da professora como estávamos nos comportando, esses pais já estão velhos... Os pais de agora têm uma BABÁ que fica com seus filhos 24 horas... É ela que dá banho, comida, leva e trás das escolas.
Os pais, esses muito ocupados com seus trabalhos, com suas roupas de marca, carros do ano, celulares de última geração, IPHONE, notebook, tablete e por ai vai... Querem que seus filhos, tratados como filhotes... Sigam a mesma forma de vida e usem os mesmos brinquedinhos.
Pois aprendi com uma colega de faculdade que: “bicho nós criamos, mas FILHOS NÓS EDUCAMOS”.
Lembro-me na minha infância, minha mãe sempre presente, me levando e buscando da escola, almoçávamos sentados todos a mesa, entre conversas e falando o que aconteceu na escola, pois sempre jantávamos todos juntos, meu pai sempre estava à mesa, ele chegava do trabalho ia para o quarto, tomava o seu banho e enquanto isso o jantar era colocado na mesa, falávamos todas juntas (coisa que até hoje acontece quando estamos juntos) e ele ficava observando e respondendo nossas perguntas, rindo junto ou dando-nos bronca por alguma coisa que havíamos feito durante o dia, depois disso a mesa era retirada e a hora de dormir era SAGRADA, lembro que eu ia dormir logo após o jantar, mas antes tomávamos banho, escovávamos os dentes e sempre teve aquela pergunta clássica: “já fez xixi?? Já rezou???” BOA NOITE...
E eu como sempre perguntava após a última palavra de mainha “BOA NOITE”
- mas mainha... eu estou sem sono!!!
A resposta vinha rápida e firme:
-“então, fique ai deitadinha esperando o sono chegar, BOA NOITE!!!”
E a luz se apagava, a porta era encostada e a luz do corredor acesa. E não lembro por quanto tempo eu ficava acordada... Nunca levantei sem perguntar gritando:
- “mainha!!!! posso fazer xixi????”... E depois voltava para a cama com as mãos lavadas e TCHAUUUUUUUUUUUUUUU... Só no outro dia.
Cresci obedecendo às regras que meus pais colocaram, meus amigos eram conhecidos de meus pais, nunca sai de casa sem dizer para onde, com quem ou a que horas estaria de volta... E ai de eu mentir!!!
Naquela época não havia celular ou GPS... Eram nossas palavras... Se mentir nunca mais saia de casa... Ou ficavamos de castigo até sair às notas no boletim... se uma nota vermelha estivesse presente, ADEUS a todo o resto...
Mesmo hoje, sou uma mulher feita independente, morando sozinha e longe da família, tenho dia e hora certa para ligar para casa, quando estamos todos juntos continuamos fazendo nossas refeições juntos, pelo menos no café da manhã de sábado e as refeições de domingo.
Quando estou lá (na casa dos meus pais) e se vou sair, passo todo o roteiro, horários e com quem estarei... E se mudar de intinerários ligo avisando.
Isso sim é família... estamos juntos mesmo que longe... Estamos ligados por telefones sem fios... temos responsabilidades e amor uns com os outros... E quando a saudade aperta... Ligamos a qualquer hora, a qualquer momento e atendemos... Independente de onde estejamos, ou retornamos IMEDIATAMENTE quando não ouvimos os celulares tocando.
Lembro-me de minha avó, de como ela era comigo, sua neta e afilhada... Tive todas as regalias, mas quando a véia dizia:
- “NÃO”... Era hora de baixar as orelhas, enfiar o rabinho entre as pernas e ficar caladinha... Com ela não tinha mais – mais... minhas irmãs e meus primos, são meus melhores amigos, nos amamos de verdade, cuidamos uns dos outros.
Mas na casa dela (voinha – minha véia - véia) sempre tinha um docinho de banana em calda, um macarrão com farofa, um guisadinho de charque, uma galinha guisada DELICIOSA... Emília (nossa amada LILÁ), sempre fez nossos gostos na cozinha e voinha sempre perguntava ou mandava fazer algo que adorávamos comer.
Sempre tinha um agradinho... um cafuné, uma bruxinha de pano, ou uma toalhinha de prato para mim... Com isso tenho uma coleção que usarei até eu morrer... Ela fez 88 panos de pratos para mim... fora os que fez para todos os outros netos e netas.
Mas quando ela falava ou brigava com qualquer um, independente de tamanho, idade ou sexo... A voz que prevalecia era e sempre foi a dela, obediência total.
A gente se ainda resmungávamos, ela que se dizia surda (que de surda não tinha NADA) fazia a pergunta clássica:
- O QUE FOI???
E a resposta era imediata:
- Nada não voinha, deixa prá lá, não foi nada não!!! - e seguíamos a vida em paz e felizes.
Agora pergunto... Se um dia eu tivesse me perdido... Vocês acham que minha família iria me deixar perdida pelo mundo??? Eles iriam fazer de conta que eu não faço mais parte daquela família???
Então para mim o que esta faltando hoje no mundo são os valores de família que foram se perdendo por omissão, preguiça ou vaidade.
Amo a minha Família... sem ela eu não seria a mulher que sou hoje.
Dinheiro, sucesso, drogas e o álcool não são as desculpas para uma pessoa se perder no mundo...
O único motivo, é não ter família ou limites. é necessário se ter hora para tudo, inclusive para assumir as responsabilidades.
Analú Lyra